7.12.11

Foi duro ouvir...

Fim de tarde, já noite em Lisboa... O escuro do túnel do Metro envolvia cada carruagem bem preenchida no regresso a casa após mais um dia de trabalho...

Há gente de phones nos ouvidos, outros a passar os olhos por um jornal deixado no banco, alguns fingem não estar ali, outros suspiram por chegar ao fim da linha verde...

Ao longe na carruagem ouve-se uma voz sumida... Uma rapariga que não teria mais de 30 anos, envolta em roupas leves e de cachecol cor de laranja... As mãos eram magras, o rosto sumido por alguma dependência mais forte, as olheiras saltavam à vista e o cabelo rodopiava em cima da cabeça.


Percorria cada banco, levantava a blusa que trazia. Mostrava uma pequena barriga e dizia: "Estou grávida e tenho fome... se me puder ajudar..."





A frase ecoava por aquela carruagem, ecoou decerto nos ouvidos de todos... Muitas caras se viraram, a desconfiança pairava no ar e a tristeza no rosto da rapariga... Mães que iam no metro engoliam em seco, os homens olhavam com desprezo e ninguém foi capaz de lhe dizer ou dar nada...



E já na saída da carruagem a mesma rapariga grávida e toxicodependente virou-se para todos e dissem em voz bem alta: "E se eu fosse a Nossa Senhora que estivesse grávida, vocês ajudavam?"



Mais do que a situação ficou-me na memória o sorriso triste com que a rapariga tinha dito esta frase provocatória... Mas, neste advento, muitas são as vezes que me tenho lembrado dela... e de tantas na mesma situação!

2 comentários:

Roberto disse...

é com alegria que O devemos receber. Contudo não há dúvida, que estes relatos, estas situações e estas notícias nos chocam (ainda) mais no Advento. Eu talvez tivesse ajudado...mas e se não tivesse nada para lhe dar naquele momento (rara/ ando com dinheiro cmg)? Será q aquela frase me ecoaria pró resto da vida na cabeça? Pode ser uma frase +/- construída pela rapariga para emocionar as pessoas, mas a verdade é que se eu for a missa ou a Fátima deixo lá o meu (pequeno) contributo...
Vamos tentar ajudar e ser (mais) generosos neste Natal...eu contribuirei com algumas roupas que já não uso, mas que serão uma mais-valia para aqueles que não tem o que vestir, nem o que comer...

Obrigado por partilhares esta história connosco.

bjinhos Sónia

PS: qd vens cá?

Cecília Fernandes Vigário disse...

Dou por mim a perder-me no meio de quem devo ou não ajudar. É triste não conseguir perceber quem verdadeiramente precisa e não ter forma de ajudar a todos. Acredita que esta frase, não tendo sido proferida a mim, vai-me soar vezes sem conta. E a questão é pertinente: estaremos a fechar a porta a jesus?! Mas quando anda meio mundo a fazer-se de coitadinho, acabamos por entrar na defensiva e nem sempre somos justos. Acredita que vou contemplá-la nas minhas orações para que alguma pessoa iluminada a possa ajudar. :) Um beijinho e obrigado pela partilha :) *